A apneia obstrutiva do sono (AOS) é uma doença do sono comum caracterizada por episódios repetidos de apneia (parada respiratória) e hipopnéia (redução da respiração) durante o sono e traz como sintomas o ronco, sono agitado, falta de disposição e sonolência durante o dia, dor de cabeça, perturbação da memória, da atenção e da concentração, tendência à depressão, hipertensão, arritmias cardíacas e, especialmente, inúmeros microdespertares dos quais o portador do distúrbio pode lembrar-se ou não. Se chega a acordar por si mesmo, o faz por duas razões: o esforço que despende para respirar e a hipoxemia, que alerta seu cérebro sobre a falta de oxigênio.
A fragmentação do sono e a falta de oxigenação no sangue intermitente crônica induzem mecanismos intermediários, como ativação do sistema nervoso simpático, estresse oxidativo e inflamação sistêmica que contribuem para a morbi-morbidade cardiometabólica.
Estudos apontam que adultos que relatam baixa qualidade de sono, apresentaram menores níveis de atividade física do que adultos sem alterações do sono. Por exemplo, os adultos com AOS são menos propensos a serem ativos do que adultos sem apneia do sono e os dados sugerem uma prevalência e incidência reduzidas de AOS naqueles que se exercitam regularmente. Os baixos níveis de atividade física observados em pacientes com AOS têm sido atribuídos à fadiga e à sonolência que experimentam, ao excesso de peso e à baixa energia que caracterizam a apresentação clínica da AOS.
Em pacientes com AOS, o treinamento físico como complemento ao tratamento contínuo de pressão positiva nas vias aéreas (CPAP) recebeu crescente interesse nos últimos anos. Em 2014, Iftikhar e colaboradores analisaram os resultados de alguns estudos e verificaram que portadores de AOS submetidos ao exercício regular apresentavam redução de 32% no IAH (redução de 6,27 eventos/hora), 28% na sonolência diurna, aumento de 5,8% na efetividade do sono e 17,65% no pico de consumo de oxigênio (VO2pico). Desfechos semelhantes foram encontrados por Mendelson e colaboradores numa metanálise em 2018, ao identificar uma redução média de 8,9 eventos/hora no IAH e 3,1 pontos na escala de sonolência de Epworth, além de um aumento médio de 3,4 ml/Kg/min no VO2picodos pacientes submetidos a um programa de exercício físico, predominantemente aeróbio.
Curiosamente, uma meta-análise recente conduzida por Mendelson e colaboradores, demonstrou que o tratamento da AOS com CPAP promoveu aumento significativo de IMC e peso corporal. A falta de efeito do CPAP nos níveis de atividade física também pode sugerir que não é apenas a fadiga e a sonolência freqüentemente relatadas por pacientes com AOS que afetam seus níveis de atividade, mas outros fatores que o CPAP não consegue melhorar, como hábitos de vida e co-morbidades estabelecidos. Os resultados decepcionantes desses ensaios sugerem que melhorar o sono e a apneia do sono é insuficiente para mudar a atividade física.
O exercício tem potencial papel como um tratamento complementar ao CPAP. Isso é surpreendente, uma vez que o CPAP, o tratamento de primeira linha da AOS tem um impacto limitado nos fatores de risco cardiometabólico, enquanto que o treinamento de exercícios tem um efeito bem documentado em vários fatores de risco cardiometabólicos.
Outra estratégia adjuvante ao tratamento desses pacientes é o treino muscular inpiratório (TMI). Dentre outros recentes estudos com essa terapêutica, em 2016, Vranish e Bailey avaliaram os efeitos de um protocolo de TMI sobre a qualidade do sono e variáveis hemodinâmicas de pacientes com AOS. Após o protocolo de estudo foi observada redução significativa da pressão arterial sistólica, diastólica, nível de epinefrina plasmática, IAH, números de despertares noturnos; melhora do escore de qualidade de sono de Pittsburgh; e aumento da Pimáx dos pacientes treinados.
No ano passado (2018), foi conduzido o primeiro estudo que avaliou as respostas ao exercício de pacientes com AOS, por Marillier e colaboradores. Neste estudo, demonstraram que a resposta cerebrovascular ao exercício está alterada na AOS e pode contribuir para a intolerância ao exercício nesses pacientes se este não for prescrito respeitando o Vo2 pico. Foi demonstrado também que a oxigenação do córtex pré-frontal e a tolerância ao exercício não melhoraram significativamente após semanas de tratamento com CPAP.
Finalizando, identificamos que são necessárias estratégias individualizadas na condução do tratamento desses pacientes e a atuação da fisioterapia vai muito além do CPAP, que é padrão ouro para resolver o problema durante o sono, mas não traz impacto na regressão da doença. É de extrema importância que o portador de AOS seja avaliado como um todo, através da realização de ergoespirometria, avaliação da função dos músculos respiratórios, avaliação por bioimpedância (identificação da gordura e massa corporal), para que se tenha uma prescrição individualizada de um plano de exercício físico; uma medida capaz de fazer regredir essa doença.
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